Blog do Chico

terça-feira, 8 de abril de 2008

Saudades
Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua.
Dói cólica, cárie e pedra no rim.

Mas o que mais dói é Saudade.

Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade de um parente que já morreu.
Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ele no quarto,
sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o escritório e ela para o dentista,
mas sabiam-se onde.
Você podia ficar sem vê-la, ela o dia todo sem vê-lo,
mas sabiam-se amanhã.
Mas quando o amor de um acaba,
ao outro sobra a saudade que ninguém sabe deter.



Saudade é não saber.
Não saber mais se ele continua se gripando no inverno.
Não saber mais se ela continua cortando e pintando o cabelo.
Não saber se ele ainda usa a camiseta que você deu.
Não saber se ela foi a consulta médica como prometeu.
Não saber se ele tem comido pizza, se ela tem jogado tênis,
se ele continua fumando, se ela aprendeu a entrar na Internet,
se ele continua preferindo Pepsi, se ela continua sorrindo,
se continua dançando.
Se continua lhe amando...

Saudade é não saber.
Não saber o que fazer com os dias
que ficaram compridos demais,
não saber como encontrar tarefas
que lhe cessem o pensamento,
não saber como frear as lágrimas
diante de uma música,
não saber como vencer a dor de um silêncio
que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele está com outra,
e ao mesmo tempo querer.
É não querer saber se ela está feliz,
e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está mais magro,
se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama,
e ainda assim, doer...
(Miguel Falabella)

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